A greve dos médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), decretada ilegal pelo Superior Tribunal de Justiça terminou ontem. Contudo, deixou mais de oito mil pessoas na fila por atendimento somente nos 22 postos da Gerência Fortaleza, que engloba vários municípios do Estado, segundo o diretor da Associação Nacional dos Médicos Peritos (Anmp), Gilson Gomes.
A greve, que durou 84 dias em todo o Brasil, além de não ter gerado benefícios aos médicos, que continuam pedindo por segurança, melhores condições de trabalho e redução na carga horária, prejudicou pessoas como a profissional de educação física, Aracelly Leite. “Estou sem receber dinheiro há dois meses. Essa situação é constrangedora, me sinto lesada e impotente, pois não tenho como pagar a fisioterapia, nem meus medicamentos”, frisa.
Após um acidente de moto, Aracelly teve politraumatismo em várias partes do corpo. Impossibilitada de exercer sua função de professora, ela esperou mais de uma mês para ser atendida pela perícia médica na agência do INSS na Avenida Desembargador Moreira, na Aldeota. Conforme Reginaldo Nogueira de Castro, gerente da agência, só na sede onde trabalha, 598 segurados aguardam há mais de 15 dias para realizar perícia médica. “Antes, agendávamos perícias em um prazo máximo de 15 dias, entretanto, quem está marcando hoje, só será atendido no dia 20 de outubro”, destaca.
Mas, de acordo com Noberto Wilson das Chagas, chefe de perícia da gerência Fortaleza, a demora por um atendimento aumentou em média de 25 a 30 dias. Segundo ele, a greve foi prejudicial para os segurados, pois alguns estão há meses sem receber benefícios. Para ele, antes dos médicos pedirem uma maior segurança nas agências, é necessário explicar a população sobre o significado da perícia médica.
O chefe da perícia explica que o esclarecimento iria evitar agressões e inúmeras ameaças sofridas por peritos em todo o Brasil. “A greve é importante para que os médicos conquistem direitos, mas grande parte dos segurados não compreendem a legislação, esse fato não é lembrado”,frisa.
Condições de trabalho
Contudo, a falta de segurança e as péssimas condições de trabalho dos peritos médicos continuam, com o término da greve. Segundo o diretor da Anmp, Gilson Gomes, a situação é tão grave que, de acordo com a Controladoria Geral da União (CGU), 40% das agências no País não possuem salas suficientes para os peritos.
Para ele, a realidade no Ceará não é diferente. Segundo Gomes, sete médicos realizam atendimento em uma mesma sala na agência do bairro Jacarecanga. “Nós precisamos de um ambiente que nos dê condições para realizar exames. Aqui, não podemos atender pacientes em macas ou deficientes físicos, pois não temos estrutura adequada. Isso é absurdo”, ressalta.
Ainda segundo Genilson Gomes, a proposta do governo para reduzir as filas de espera nas agências do País é contratar médicos terceirizados. Mas, ele ressalta que é contra essa decisão. O perito explica que no Ceará, no período em que existiam profissionais terceirizados, entre 1998 e 2006, as filas aumentaram de forma significativa.
Conforme ele, a falta de treinamento fazia com que os prazos de licenças médicas fossem curtos e consecutivos, obrigando o segurado voltar mais vezes nas agências. “O ideal seria realizar novos concursos e capacitar os médicos, além de oferecer um serviços de qualidade para a população”, diz.