O deslize (pat)ético de Temporão

O PMDB e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, protagonizaram esta semana, por rápidos momentos, um impasse político (pat)ético que revela a relatividade a que foi relegado o conceito de moral no âmbito da vida pública. Não acontece apenas no Brasil, mas acontece muito no Brasil. Sem subterfúgios.
 

O PMDB e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, protagonizaram esta semana, por rápidos momentos, um impasse político (pat)ético que revela a relatividade a que foi relegado o conceito de moral no âmbito da vida pública. Não acontece apenas no Brasil, mas acontece muito no Brasil. Sem subterfúgios.
 
Temporão, há dias, numa entrevista radiofônica, sustentou que a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) era um antro de corrupção. Ocorre que o órgão, além de estar sob o comando do ministério que Temporão dirige, faz parte das cotas de cargos que cabem ao PMDB.
 
Temporão, como se sabe, é filiado ao PMDB. Cometeu, do ponto de vista do partido, uma transgressão disciplinar. Do ponto de vista do interesse público, prestou um serviço incompleto. Só estaria completo se, após a revelação, tomasse a providência de desinfetar o tal antro. Isto é, demitir os que promovem a lambança e responsabilizá-los penalmente.
 
Não fez nada disso. Bem ao contrário, veio a público dizer que não fora bem compreendido. Ao dizer o que disse, estava se referindo às administrações anteriores (que eram também do PMDB) e não à atual. Foi o primeiro recuo. Não foi suficiente. Reuniu-se anteontem com o alto comando do PMDB, que queria sua cabeça ou um desmentido público mais categórico.
 
A reunião foi a portas fechadas. Não se sabe, portanto, o que confabularam. Sabe-se o desfecho, que não honra a nenhum deles. Temporão mantém a afirmação de que foi mal compreendido (a culpa, portanto, mais uma vez, é da imprensa) e o PMDB recuou de sua decisão de pedir-lhe a cabeça ou de informar ao presidente Lula que ele já não faz parte da cota (!) do partido.
 
Entra em cena, então, a chamada moral partidária, que nenhum parentesco tem com o conceito clássico de moral. Enquanto esta expressa a prática dos valores éticos, aquela sustenta o primado do utilitarismo. Parodiando Mário de Andrade, “moral é tudo aquilo que chamamos de moral” — e estamos conversados.
 
O PMDB não mudou sua opinião a respeito do gesto de Temporão. Considera que violou a disciplina partidária — que, pelo visto, está acima da própria lei — e atentou contra seus interesses, ao expor um setor da administração pública controlado pelo partido.
 
Demiti-lo, porém (ou forçar sua demissão, já que o ato formal cabe ao presidente da República), seria pior. Abriria espaço num setor estratégico da administração — um cofre importante da República — para o PT, que há muito o ambiciona.
 
Nesses termos, mais importante que a fidelidade partidária de Temporão é a necessidade de manter a Funasa sob controle. Temporão evitou a bola dividida. Aceitou a coreografia da paz que lhe foi oferecida: continuará a atribuir os eventuais desacertos da Funasa às administrações anteriores e não mais incomodará seus atuais gestores, embora os tenha efetivamente acusado de corrupção. O que ele disse está gravado e, à primeira vista, dispensa a intermediação de intérpretes. O termo “à primeira vista” é necessário porque, em política, tudo é relativo, inclusive — e sobretudo — o óbvio. Temos então que, a partir de agora, não se fala mais em faxina administrativa ou coisa do gênero na Funasa.
 
Mais adequado é falar em “reformulação”, termo que todos usaram após a reunião de anteontem — e que, no âmbito da política, significa exatamente nada. É algo tão denso quanto criar uma comissão de estudos sempre que uma crise se apresenta.
 
Juscelino, certa vez, disse que, na política brasileira, quando não se quer resolver um problema, cria-se uma comissão; quando se quer, paga-se uma comissão. PMDB e Temporão optaram por uma variante: a reformulação administrativa.
 
O PMDB prometeu ao ministro acalmar suas bancadas, que se sentiram agravadas com suas palavras. Os parlamentares têm suas razões (que não são necessariamente as dos contribuintes): afinal, onde já se viu trazer a público questões públicas que arranham a imagem do partido? Acima de tudo, o partido.
 
Ciente do pecado cometido, Temporão enquadrou-se. Lula, que a tudo assistiu em silêncio, somente depois do pacto selado veio a público informar que não cogita demitir Temporão. Todos devidamente acertados, tudo volta a ser como dantes, no quartel D’Abrantes. Moral da história: ora essa, leitor, esta história não tem moral alguma.
 
*Com informações do Correio Braziliense / Ruy Fabiano – Jornalista

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