Na reunião com governadores e prefeitos, a presidente, que já foi brizolista, vai dizer qual é a dela
A presidenta Dilma Vânia Rousseff, de 65 anos, vai dizer qual é a dela hoje à tarde, justo na hora da onça
beber água. Depois de conversar às duas horas com a meninada sonhadora do Movimento Passe Livre,
que desencadeou os primeiros protestos em São Paulo, terá uma reunião com os pragmáticos 27
governadores e prefeitos das capitais para discutir uma alternativa para os transportes urbanos, já como
consequência da fúria das ruas.
Se for pela cabeça do seu ministro das cidades, o paraibano Aguinaldo Ribeiro, do partido do Maluf, ou o
senador Lindbergh Faria, pré-candidato do PT ao governo do Estado do Rio, estaremos FRITOS E MAL
PAGOS.
Os dois, em sintonia com os prefeitos que historicamente vivem fazendo os gostos das empresas de ônibus
em troca de algumas gentilezas indescritíveis, querem carrear mais dinheiro para os já abarrotados cofres
das empresas privadas de transportes públicos.
A limonada do limão ao gosto das empresas de ônibus
O Lindbergh, para a minha total decepção, está fazendo das tripas coração para que a Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado, que preside, vote amanhã mesmo um SACO DE BONDADES que
garantirá às empresas casa, comida e roupa lavada para continuarem acumulando fortunas,
estrategicamente compartilhadas.
Não lhe ocorreu em nenhum momento pedir a abertura da caixa preta das tarifas, lacrada numa planilha
manipulada, pela qual, como já escrevi, os preços das passagens sobem sistematicamente o dobro da
inflação.
Não lhe ocorreu fazer o que fez o Ricardo Faria, corajoso editor do blog VEJO SÃO JOSÉ, que gravou
um depoimento com José Dias, ex-presidente do Sindicato dos Rodoviários de São José dos Campos, no
qual ele demonstra com todas as letras como as empresas manipulam o chamado IPK, Índice de
Passageiros por KM, e os cálculos de depreciação da frota.
Não ocorreu ao senador, por quem tenho tanto carinho, ler as reportagens publicadas por José Ernesto
Credencio e Mário Cesar Carvalho, na FOLHA DE SÃO PAULO, neste domingo, e, antes, por Adamo
Bazani, da CBN, em seu blog PONTO DE ÔNIBUS, que transcrevo no DEBATE BRASIL, nas quais
fica demonstrada uma gigantesca fraude de um consórcio de empresas de ônibus que opera na região
Leste de São Paulo, graças à qual o promotor Saad Mazloum revela conclusões escabrosas sobre a
manipulação do faturamento de três empresas do mesmo grupo.
Um projeto de pai para filho
O projeto apadrinhado por Lindbergh é coisa de pai para filho. Concede diversos benefícios fiscais em
nível federal, alguns já previstos em duas medidas provisórias — MP 612/2013 e MP 617/2013. Seu
Substitutivo amplia esses benefícios e condiciona o regime tributário à adesão de estados e municípios,
que deverão zerar as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do
Imposto sobre Serviços (ISS) das empresas de transporte, coisa em que o Eduardo Paes já se adiantou no
Rio com carinho e afeto.
Vivendo e aprendendo. Eu nunca podia imaginar que o querido amigo, uma legenda do movimento
estudantil, fosse se empenhar na fórmula com a qual os poderosos empresários de transportes coletivos
vão continuar protegendo seus super-lucros e seu caixa 2, de onde saem os mensalões para os políticos dos
Executivos e dos Legislativos.4
Como a presidente Dilma vive o ser ou não ser sob a chantagem da governabilidade a partir de
parlamentares de aluguel, não é vai difícil ela embarcar nessa canoa, como fez em maio, quando editou a
Medida Provisória que livrou a cara dos empresários de ônibus em R$ 1 bilhão por ano, graças à dispensa
de pagamento do COFINS e do PIS.
Só Brizola teve peito de encarar a turma do Jacob Barata
Ela, que já teve tratos com o assunto quando foi da equipe de Alceu Colares na Prefeitura de Porto Alegre,
sabe muito bem como essa banda toca. Naquela época, viu o governador Leonel Brizola acabar com a
farra da máfia, quando encampou as 16 maiores empresas de ônibus, através do memorável Decreto 8711,
de 9 de dezembro de 1985.
Pena que o Moreira Franco, seu atual ministro dos aeroportos, como pagamento de compromissos de
campanha, reprivatizou o sistema e ainda abriu caminho para o sucateamento da CTC estatal, liquidada no
governo Marcello Alencar.
Por que não aprendem com os americanos?
Já que tem viagem oficial aos Estados Unidos em outubro, Dona Dilma poderia pedir informações sobre o
sistema de transportes públicos na Meca do capitalismo. Lá, a estatal National Railroad Passenger
Corporation – a Amtrak – constituída em 1971 em meio ao declínio do transporte de passageiros, opera
uma rede ferroviária nacional que serve a mais de 500 destinos, em 46 estados da federação, através de
33.800 quilômetros de trilhos, com mais de 20.000 funcionários, e presta um dos serviços mais elogiados
daquele país.
Em alguns estados, como Nova York e Califórnia, a estatal federal opera um serviço de ônibus
interurbanos denominado Thruway Motorcoach, destinado a servir passageiros de localidades sem
serviços ferroviários, de modo a conduzi-los à estação ferroviária mais próxima, possibilitando assim
conexões com os trens. Mais recentemente, segundo um brasileiro muito viajado por lá, ela vem
assumindo praticamente todas as linhas de ônibus da cidade de Nova York.
Estou falando dos Estados Unidos, mas poderia pegar outros exemplos onde o transporte público é
PÚBLICO mesmo. E funciona muito bem.
Ir fundo ou ir para o fundo do poço
Dona Dilma, o PT e o escambau, toda essa malha agregada aos podres poderes, podia ir fundo na questão
dos transportes urbanos, que são definidos como Direito Constitucional dos cidadãos, abrindo mão desse
esquema pernicioso de alta capilaridade corruptora, reescrevendo todo o modelo de transportes, tarefa que
pegaria bem para um senador cria do PC do B, com passagem pelo PSTU e tido e havido como da parte
ainda coerente do PT.
Primeiro, concentraria os recursos públicos no incremento ao modal ferroviário. Em paralelo,
restabeleceria o caráter público estatal de todo o sistema, única maneira de assegurar uma prestação de
serviços decente, como aconteceu com a CTC no primeiro governo Brizola.
Sei que é querer muito imaginar essa turminha fazer qualquer coisa nessa direção, justo quando estão
privatizando os aeroportos lucrativos e ficando com os deficitários, enquanto ampliam a malha de
rodovias privatizadas e pedagiadas, além de ter aprovado no ano passado a Lei que permite a cobrança de
pedágios urbanos.
Mas como o povo gostou da rua, e nela pode permanecer ou a ela retornar de quando em vez, é de bom
conselho que esse governo que se considera popular pela caridade do bolsa-família repense seu cavalo-depau enquanto é tempo.
Do contrário, vai ser uma tremenda hipocrisia apresentar-se à distinta platéia como farinha de outro saco,
sem nada em comum com a súcia de embusteiros que conseguiu a proeza de ver o povo nas ruas rejeitar as
bandeiras de partidos e sindicatos, por mais “diferentes” que fossem.Fonte: Blog do Porfírio