Inflação ameaça sonho dourado de Lula

Presidente compara o crescimento econômico em seu governo com o período de Juscelino Kubitschek, na década de 50. Mas os gastos públicos e o iminente aumento de preços também aproximam os dois períodos
 

Presidente compara o crescimento econômico em seu governo com o período de Juscelino Kubitschek, na década de 50. Mas os gastos públicos e o iminente aumento de preços também aproximam os dois períodos
 
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comparar o momento atual da economia brasileira com os “anos dourados” do final da década de 50, quando Juscelino Kubitschek dirigia o país (1956 a 1960). Segundo Lula, porém, o país tem uma vantagem hoje: a inflação estaria sob controle. “Eleva-se novamente a auto-estima do brasileiro, a exemplo do que aconteceu nos anos dourados da era JK, mas ao contrário de 1958, o Brasil de hoje, apesar da crise mundial, tem uma inflação sob controle”, disse Lula na comemoração dos 50 anos da Bayer no Brasil, empresa farmacêutica inaugurada justamente no mandato de Juscelino.
 
Em outras ocasiões, Lula já havia lançado mão de comparações com Juscelino, geralmente citado pelos eleitores brasileiros como melhor presidente que o país teve. Fez isso ao inaugurar obras de ampliação do aeroporto de Uberlândia (MG), por exemplo, e ao refutar recentes denúncias envolvendo a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em irregularidades na venda da VarigLog. Ontem, o foco voltou a ser na economia. O presidente destacou que, além de uma inflação menor, o país registra outros avanços na área.
 
“Somos credores internacionais e conquistamos o cobiçado grau de investimento”, afirmou na unidade da Bayer, em Belford Roxo (RJ). “Quis o destino, e trabalhamos muito para isso, que 50 anos depois o Brasil esteja vivendo um outro momento de otimismo. Depois de décadas de estagnação econômica e forte concentração de renda, o Brasil cresce de forma acelerada, para todos, reduzindo desigualdades sociais e regionais históricas. Crescem a produção industrial e o comércio, os empregos formais batem recorde, sobem os salários e aumenta o crédito. Voltamos a investir fortemente em infra-estrutura, educação e saúde, em busca do tempo perdido.”
  
Num tom saudosista, Lula lembrou que 1958 foi um ano especial para o Brasil, quando a seleção brasileira de futebol foi campeã mundial pela primeira vez, Brasília foi construída e a bossa nova surgiu. “Ele próprio (JK) era considerado um presidente bossa nova. Dava o tom de otimismo que contagiava o Brasil inteiro”, disse. Embora tenha garantido ao presidente mundial da Bayer, Werner Wenning, que o crescimento no Brasil continuará, Lula brincou, dizendo que a empresa venderá menos aspirinas no país porque os brasileiros terão menos dores de cabeça. Ao exaltar o país, Lula fez referência a um antigo slogan da empresa: “Se é Brasil, é bom”.
 
Prosperidade
 
Os anos JK são lembrados como uma época de prosperidade sem igual no país, quando a economia cresceu em média num ritmo superior a 7% ao ano. Mas JK também é acusado de ter elevado a inflação para um novo patamar, principalmente por dois motivos: superaquecimento na produção e consumo e descontrole nos gastos públicos. Os economistas costumam associar o aumento da inflação, que passou de 12% no início do seu mandato para 35% em 1959, ao endividamento e expansão da quantidade de moeda na economia, ambos necessários para a construção de Brasília.
 
Apesar de acalentar um sonho dourado de repetir a popularidade de Juscelino, Lula está trilhando a mesma receita perigosa, também podendo chegar a resultados ruins em relação à inflação. Apesar dos constantes alertas de analistas e do discurso oficial de responsabilidade fiscal, as despesas do governo federal estão crescendo 10% neste ano. Nos primeiros quatro meses do ano, os gastos já somam R$ 143,97 bilhões, num aumento de R$ 12,42 bilhões em comparação com igual período do ano passado. Em conversas privadas, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reclama que a gastança superaquece a demanda e estimula a inflação.
 
Assustado com a rápida deterioração das expectativas futuras dos agentes econômicos, o governo decidiu manter a meta de inflação para 2010 em 4,5%. O martelo foi batido há pouco mais de duas semanas, conforme antecipou o Blog do Vicente, depois de um consenso entre os três integrantes do Conselho Monetário Nacional (CMN): os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Meirelles. Tudo sob a bênção do presidente Lula, que teme ver o final de seu mandato prejudicado pela escalada dos preços, movimento que afeta, sobretudo, os mais pobres, seus fiéis eleitores. O anúncio oficial da meta de 2010 sairá na próxima segunda-feira, dia 30.
 
De início, o presidente do BC chegou a cogitar a possibilidade de a meta de 2010 ser reduzida para 4%, como forma de sinalizar aos formadores de preços que o governo não será complacente com a inflação. Mas a arrancada dos alimentos e das cotações do petróleo no mercado internacional minou tal discussão. Os três integrantes do CMN entenderam que, o melhor, agora, é repetir a meta de 2008 e 2009, pois ela reforça o comprometimento com a estabilidade da economia — economistas acreditam que a meta não será cumprida. Uma meta maior, como alegou Meirelles, indicaria aos investidores leniência, ajudando a deteriorar as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para as metas. “Um discurso afinado da equipe econômica neste momento é o melhor recado que o governo pode dar ao mercado para manter a confiança no combate à inflação”, disse um técnico da Fazenda.
 
Ameaça
 
Os riscos de a inflação fugir do controle ficaram evidentes, mais uma vez, na pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC. Na média, os cerca de 100 analistas consultados pela instituição passaram a projetar IPCA de 6,08% para este ano — foi a 13ª semana consecutiva de alta — e de 4,78% para 2009. As projeções também dispararam para outros três índices pesquisados pelo BC: o IGP-DI (11,02%), o IGP-M (10,36%) e IPC da Fipe (5,79%). Com isso, os especialistas não só acreditam que a taxa básica de juros (Selic) subirá até os 14,25% no fim deste ano, como vêem espaço cada vez menor para a redução da taxa no ano que vem. Tanto que elevaram a previsão de juros para 2009 de 12,25%, há quatro semanas, para 13%, agora.
 
“O quadro inflacionário está muito conturbado”, disse o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho. Ao revirar os números, ele decidiu aumentar, de 6,4% para 6,7%, a previsão de IPCA para este ano. Isso ocorreu por causa da revisão do índice de junho, de 0,50% para 0,67%. Além dos alimentos, o que surpreendeu neste mês foi o comportamento dos artigos de vestuário. Segundo Thadeu, esperava-se deflação nesse segmento. Mas o frio inesperado encareceu várias mercadorias.
 
*Com informações do Correio Braziliense

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