Lula assume publicamente que economia atravessa dificuldades. Nesta primeira metade do ano, país enfrentará queda na produção e nas vendas combinada com aumento do desemprego.
Depois de muito relutar, o presidente Lula finalmente assumiu publicamente que o país viverá dias difíceis pela frente. Mas, como virou praxe, ele fez sua confissão pela metade. Em vez de um trimestre complicado, como alertou, o Brasil terá um primeiro semestre como há muito não se via no país. Combinarão queda na produção industrial, vendas despencando no comércio e desemprego em alta. Ou seja, um quadro típico de recessão econômica. Não é à toa que, semana após semana, os analistas vêm reduzindo as previsões de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2009. Agora, falam em apenas 2%, metade da meta de 4% fixada pelo governo. “Não tem jeito. Diante do que vemos no cenário mundial, com as principais economias em recessão, o impacto da crise no Brasil será mais pesado do que imaginávamos”, disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
A perspectiva é de que a atividade econômica só volte a ganhar fôlego a partir de julho, quando se espera que a redução da taxa básica de juros (Selic), a ser iniciada na próxima semana, comece a fazer efeito. A maioria do mercado acredita que o Banco Central cortará a Selic em 0,5 ponto percentual, dos atuais 13,75% para 13,25%, repetindo essa baixa nas três reuniões seguintes do Comitê de Política Monetária (Copom). “Na minha opinião, o processo de redução do juros será mais prolongado, com a Selic encerrando o ano em 11%”, afirmou Rosa. Esse movimento, acrescentou, será facilitado pelos índices cada vez menores da inflação, já que as empresas estão arredias em repassar a alta do dólar para os preços temendo um encalhe ainda maior de seus estoques.
Recessão
Mas antes de se deparar com os números nada animadores deste ano, os brasileiros terão de enfrentar a realidade dramática que foi o último trimestre de 2008. Com o forte tombo da indústria e o encolhimento do consumo das famílias, apesar do Natal, o PIB acumulado entre outubro e dezembro caiu aproximadamente 2%. Por isso, ressaltou a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli, o crescimento global do ano passado foi menor do que o projetado inicialmente. Em vez de uma taxa próxima de 6%, o resultado será de 5,3% — ainda assim, um número espetacular, dado o terremoto provocado pela crise. “O último trimestre foi o pior da crise, com escassez de crédito em um ambiente de estoques elevados tanto na indústria quanto no comércio”, assinalou.
A tendência, disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, é de que haja retração do PIB também nos primeiros três meses deste ano, o que, tecnicamente, significará que o Brasil entrou em recessão. “O PIB cairá nos primeiros três meses deste ano, mas num percentual menor do que vimos no último trimestre de 2008”, destacou. Um pouco mais otimista que a média do mercado, Gomes espera uma recuperação lenta e gradual da atividade a partir de abril, quando, segundo ele, o comércio começará a recompor os estoques — queimados por meio de promoções e descontos —, realimentando a produção industrial.
Para o economista da CNC, a recuperação da economia será mais rápida se o BC conseguir restabelecer o crédito, fundamental para os investimentos e o consumo. A seu ver, além de ter demorado para agir, quando todas as linhas de financiamento secaram depois da quebra do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, o BC errou ao liberar parcialmente, e não integralmente, os depósitos compulsórios dos bancos — cerca de R$ 100 bilhões de uma montanha de R$ 275 bilhões. Além disso, o BC tentou punir os grandes bancos que não compraram carteiras de crédito das pequenas instituições, mas teve que voltar atrás porque só ajudou a encarecer o pouco crédito disponível.
“Ninguém gosta de dizer que o Banco Central foi ineficiente. Mas estamos pagando o preço disso”, frisou Freitas Gomes. No seu entender, a melhor forma de o BC estimular os bancos a emprestarem às empresas e aos consumidores é criar duas taxas de juros, uma, mais baixa, para remunerar o dinheiro parado no caixa das instituições; outra, um pouco maior, a taxa Selic, usada para controlar a inflação. “Se quiser estimular o crédito e a economia, o BC tem de ser menos convencional”, disse.
Previsões pessimistas
Único especialista a prever o estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos e suas consequências dramáticas para o mundo, o economista Nouriel Roubini, da RGE Monitor, está finalizando as novas estimativas de crescimento para o Brasil neste ano. Se as suas contas estiveram corretas, o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançará entre 0,5% e 1%, um resultado desastroso para uma economia que, por dois anos seguidos, cresceu acima de 5%.
“Os dados não são nada animadores. Mesmo com todas as medidas que estão sendo tomadas pelo governo, a contração na demanda doméstica, apontada como o motor do Brasil, será forte”, afirmou Vitória Saddi, responsável pelas análises dos países latinos. Ela reconheceu, porém, que o fato de o Brasil manter o PIB positivo, mesmo com o mundo todo desabando, será fundamental para que a economia da América do Sul encerre o ano com incremento de 1,1%. O país representa 60% da região.
Nas contas da RGE Monitor, o PIB dos Estados Unidos vai desabar 3% e o do Japão e da Europa, 1,2%. A China crescerá 5% e a Índia, 6%. “Juntos, Brasil, Índia e China responderão por 30% do crescimento mundial em 2009”, disse Vitória. (VN)
*Com informações de Vicente Nunes / Correio Brasiliense

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